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Em fevereiro deste ano, determinação, disponibilidade de recursos e trabalho de especialistas em arquitetura hospitalar possibilitaram a construção, em 10 dias, de um hospital com 1.000 leitos na cidade chinesa de Wuhan, para tratar de pacientes da covid-19. Esse esforço incentivou outros projetos de construção em todo o mundo dos chamados hospitais de campanha, em um empenho mundial jamais visto de como a arquitetura pode ajudar no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
IDEIAS DE ONTEM
Seguindo as recomendações de distanciamento social, alguns hospitais de campanha se assemelham aos hospitais de ala aberta do final do século XIX e início do século XX, em vez dos hospitais com salas de ocupação individual, como se vê hoje em dia. A configuração de enfermaria aberta, com camas com um metro e meio de distância e alto padrão de limpeza, foi popularizada pela enfermeira britânica Florence Nightingale (1820-1910). Jennie Evans, diretora de desenvolvimento da empresa americana HKS Architects, afirma: “os princípios de design de Florence Nightingale ainda se aplicam hoje. A maneira como são aplicados é diferente, mas os princípios de design são basicamente os mesmos.” Os hospitais de campanha para a covid-19 têm como alvo diferentes segmentos da população, mas o impacto é um só nos ecossistemas de saúde: alívio em vista de um colapso.
No Brasil, país pentacampeão mundial de futebol, arenas esportivas se tornaram espaços médicos de grande capacidade para receber exclusivamente os infectados pela covid-19, adaptando-se a complexidade de um projeto hospitalar a um espaço temporário. Trata-se de um enorme desafio para engenheiros e arquitetos: trabalhar com instalações tão multifacetadas em um ambiente que precisa ser montado em curto prazo e com estruturas temporárias. São erguidas tendas e, dentro delas, há divisões entre os leitos para que o distanciamento seja mantido. No local existe uma estrutura provisória para pacientes que tiverem um quadro agravado dentro dos hospitais, que ficam hospitalizados nesse espaço até que sejam transferidos para UTIs de outras unidades. Como recebem grande número de pessoas, o material utilizado na construção dos hospitais de campanha deve ser de fácil limpeza. O piso geralmente é vinílico, enquanto as divisórias, em sua maioria, são feitas de laminados. Centros de convenções e hotéis também foram adaptados para fornecer assistência médica durante a pandemia.
A pandemia da covid-19 também está revelando novas necessidades dos hospitais, levando projetistas e arquitetos a discutirem a urgência de controle sem toque para iluminação, temperatura e outras funções do edifício, para ajudar a evitar a propagação de doenças. Usar materiais mais hostis para micróbios, como o cobre, também pode reduzir o risco de transmissão. Alguns hospitais também já eliminaram cortinas e persianas das janelas, que podem ser facilmente contaminadas.
LIÇÕES PARA O FUTURO
Como os hospitais modernos geralmente não são flexíveis o suficiente para acomodar um aumento repentino de pacientes, muitos médicos, arquitetos e consultores de saúde já falam sobre como os projetos de hospitais de campanha podem contribuir para evitar uma repetição da atual crise, proporcionando uma maior flexibilidade ao sistema de saúde.
Com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de melhores práticas de design para locais de atendimento alternativos, o Instituto Americano de Arquitetos (AIA) montou uma plataforma que reúne projetos de arquitetos de todo o mundo, em resposta à pandemia. O mundo vai mudar após tudo isso e a arquitetura também deixará seu legado.